quarta-feira, 25 de julho de 2012

Pensando na Margem...

Abril de 2007, Uberlândia-MG.

Aula de Introdução à Economia com a professora Ana Paula.

Capítulo introdutório do livro do Gregory Mankiw de Introdução à Economia. Xerocado.

O neófito Wagner abre e percebe que o capítulo trata dos "Dez princípios básicos de Economia", lê, e acha tudo bem...plausível! Afinal, são apenas considerações gerais sobre como as pessoas se comportam, certo?

Agora, o não mais neófito...que dizer, ainda neófito Wagner resolve reler os dez princípios! E adivinha o que aconteceu? Isso mesmo, as conclusões foram diferentes. Mas é claro que foram diferentes, já dizia Heráclito de Éfeso: um homem nunca pisa no mesmo rio duas vezes, porque as águas não são as mesmas, nem o homem é o mesmo!

A diferença entre o neófito Wagner e o "um pouco menos neófito" Wagner é que o segundo está atualmente fascinado por estudar Filosofia Moral. E isso abre a cabeça pra muita coisa.

Vamos focar no princípio três por enquanto: "pessoas racionais pensam na margem". Na época, nenhuma pergunta, mas hoje me surgiram algumas. Primeiro: o que é uma pessoa racional? Segundo: porque que pensar na margem é algo racional, enquanto que, logicamente, não pensar na margem seria...irracional?

Margem, margem, marginal, marginal...........ismo! Revolução marginalista, fins do século XIX, responsável pela criação do chamado "Economics" (no lugar da Economia Política). Esse princípio nada mais é do que um pressuposto sobre o comportamento humano cunhado por esses caras, reconhecidos por incluir cálculo diferencial nas análises econômicas e criar o que até hoje é tido como mainstream.

A Física é uma ciência encantadora, eu já dizia na postagem anterior. E já era na época desses caras! Eles devem ter olhado pra Física Newtoniana, com aquela quantidade enorme de explicações que eram dadas aos fenômenos e dito: nossa, que bonito, precisamos fazer igual! E fizeram, pegaram emprestado o método deles e trouxeram para a Economia!

Mas peraí, pra gente poder fazer com que o cara maximize a utilidade e que isso dependa de uma relação custo-benefício que é marginal, a gente precisa...
que os caras pensem na margem!

Aí isso aí a gente chama de racional, porque Economia é uma ciência, e só pode lidar com o racional!

Onde eu quero chegar com essa digressão estúpida? A um problema de causalidade.

Afinal, o ser humano pensa na margem e por isso a Ciência Econômica responde a isso incorporando tal fundamento do comportamento humano? Ou será que esse pressuposto foi adotado pra que fosse possível utilizar cálculo pra fazer análises econômicas?

Veja bem, não estou condenando o uso do cálculo. Só acho interessante considerar se não padecemos nesta ciência de uma dependência equivocada do instrumental matemático. O próprio nome diz: instrumental! Herbert Simon nos chama atenção pra esse fato quando diz que a programação linear exigiu que houvesse um pressuposto de racionalidade limitada sobre o indivíduo. O utilitarismo é um tipo de filosofia moral que veio muito bem a calhar com as necessidades de se simplificar o indivíduo ao máximo para poder utilizar o cálculo.

Hoje em dia a matemática avançou, a Física avançou, mas o utilitarismo ainda impera na Economia. Como diz Mankiw "as pessoas tomam decisões por meio de comparação de custos e benefícios". Será que o ser humano é só isso?

4 comentários:

Litterata disse...

Bem interessante seu texto Wagner...concordo plenamente com o que vc disse. Acrescentando a essa discussão, parece-me, mais do que nunca, que falta à Ciência Econômica a noção de complexidade. Não chamo aqui complexidade algo que é complexo (isso seria uma mera tautologia), mas sim o termo oriundo da teoria do conhecimento que diz respeito à necessidade de se entender os fenômenos como aspectos de um todo interconectado, e não apenas isolado (ou se, no nível agregado, soma dos átomos). Há nesse sentido, a necessidade da superação do atomismo como método de análise na Ciência Econômica...e isso evidentemente irá aproximá-la novamente da famosa Economia Política.

Gil disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gil disse...

Mais uma vez, parabéns pelo texto, man! Sempre relevante para a discussão na economia.
Pois bem, acho que esse debate que vc nos conduz é bem instigador, já que o que o programa de pesquisa hegemônico na economia faz é apenas transformar em teoria um modelo ou instrumento e não o inverso. Esse instrumentalismo é algo deprimente!
Realmente eu acredito que esse pessoal é um corpo estranho na e para a ciência. Ou no mínimo estão deslocado temporalmente. O que essa turma descobre hoje, muita gente já tinha descoberto a séculos (sem forçação de barra...).
Forte abraço

Gustavo T. Orsolin disse...

Belo texto, Wagner!
Eu, particularmente, preciso desenvolver um método para aprender a lidar com essa ideia de racionalidade substantiva. Senão, como ensinar isso na graduação a partir do ano que vem? Fazer o que? Dizer que os indivídos comportam-se "como se" fossem racionais? Ou ir dar aula em ciências políticas, filosofia, sociologia? É complicado, amigo, é complicado! Hehehe!
Aliás - parênteses - o "as if" deveria estar em um dicionário de expressões usadas nas ciências, na definição do termo "ad hoc".
Continua postando daí que eu continuo seguindo daqui!
Abraço