quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Unanimemente vago, vagamente unânime: os economistas e as coisas que eles não explicam e não querem explicar

Escrevo sem me basear em nenhuma evidência empírica e sem nenhum rigor científico. O que escrevo beira a escrita ensaística por um lado e o mero devaneio por outro. Mas não é nada abstrato, é pelo contrário bastante concreto e vivido diariamente. Uma construção que emerge da observação acumulada dos dias, a erupção de um vulcão que vinha juntando magma a algum tempo, cujas cinzas ainda estão sendo jorradas no ar.

Às vezes os economistas me deixam triste. Eu não diria decepcionado, mesmo porque a gente se decepciona quando a gente espera de alguma coisa mais do que aquilo que ela de fato oferece. Eu, pelo contrário, acho que nunca esperei demais da Economia como Ciência, pois sempre fui (e ainda sou) entusiasta do encontro dessa com outras disciplinas. A tristeza mesmo se refere à insistência do debate em apertar as mesmas teclas de sempre, seja de um lado ou de outro do rio; à constante tentativa de deslegitimar ideologicamente outrem e de deixar de lado determinada informação relevante; à mania de reverter as informações aos seus anseios; à constante, aparentemente corriqueira, incessante inversão de meios e fins da atividade econômica no discurso.

É triste porque eu vejo esse tipo de coisa acontecer em todo momento, em todo lugar. Sempre me esbarro eu alguém fazendo isso. E sempre me pergunto se sou eu que estou no lugar errado ou se essa ciência sofre de algumas deficiências sérias.

Boa parte das complicações são resolvidas pelo fato de se tratar de uma ciência que lida com o político, com os interesses de cada um dentro do arranjo social e que algumas coisas são decorrência natural desse fato. Mas às vezes me pergunto se ainda dá pra chamar isso de ciência. Intuitivamente algumas coisas me soam muito anti-científicas. Digo intuitivamente porque pra ser rigoroso eu precisaria primeiro definir o que é ciência e depois dizer se isso é ou não usando determinados critérios. Eu não estou trabalhando com tal nível de rigor, estou apenas tendo uma intuição de que alguns discursos são baseados muito mais em interesses e ideologia do que propriamente em uma construção cientifica capaz de explicar a realidade.

A economia ajuda a explicar a realidade? Sim, mas também atrapalha às vezes. Atrapalha quando se coloca um véu ideológico pra tentar explicar a realidade, subvertendo-a ao prazer das vicissitudes da ideologia. A troco de que? Eu fico imaginando se um economista tem algum tipo de prazer etéreo quando acerta alguma previsão ou quando vê algum fato comprovando que sua "teoria" está certa. Porque essa obsessão por dizer que sua teoria é melhor que a outra? O que nos humanos provoca esse tipo de busca incessante? E porque muitos são tão inflexíveis e incapazes de reconhecer sua própria incapacidade?

Os economistas são mais pretensiosos do que muitos outros cientistas quando sua própria dita "Ciência" é muito menos acurada do que as naturais, por exemplo, pelo simples fato dos fenômenos naturais não incorrerem em problemas políticos/ideológicos. O ciclo da água funciona de um jeito e pronto. Você pode até provar que funciona de outro jeito e ponto, mas se isso acontecer, a outra teoria cai por terra. e pronto! A economia não funciona assim e nunca vai funcionar assim, essa é uma de suas particularidades. Então é uma área em que os cientistas deveriam ser bem menos pretensiosos, mas não parece ser bem isso que acontece.

Pretendo fugir do famigerado contraste entre "teoria convencional" e "abordagens heterodoxas" aqui, porque vejo tais questões, como disse, tem todo lugar, em todo momento. Mas algo que vale ressaltar é que mesmo esse debate é um debate essencialmente político. É uma disputa de poder, antes de mais nada. Fico me perguntando e imaginando o que aconteceria se as teorias alternativas se tornassem mainstream e vice-versa.

Todas falham ao ver o homem como meio. Como uma ciência humana (será que é mesmo?) coloca o homem como meio? Claro que qualquer um vai dizer que isso é uma falácia, mas fazem isso o tempo todo sem nem se darem conta.

Acho que todo economista deveria se fazer um exercício socrático, uma sequência de perguntas que não chegam em uma resposta final, mas constroem algo na cabeça do indivíduo, de modo a perceber a circularidade de alguns raciocínios e à fuga ao entendimento dos objetivos primordiais da atividade econômica.

"Os dilemas da Economia Brasileira"...deeeesde a década de 1980, o Brasil nunca teve altas taxas de crescimento quanto mais de forma sustentada... olha a China, que beleza, o Brasil nem chega perto do que acontece lá! O que fazer? geralmente essa pergunta é respondida olhando para os determinantes do crescimento. Alguns vão dizer: precisa ter indústria! Outros: precisa especializar naquilo que se tem vocação! Ainda: precisa tirar o Estado e deixar o mercado regular a estrutura de preços relativos. Ademais: precisa ter planejamento e investimento de longo prazo, etc etc etc... até coisas do tipo: "precisa investir em educação" e "precisa diminuir a desigualdade de renda".

Peraí.

Qual o fim de tudo isso? Fazer a economia crescer? Tá, mas pra que fazer a economia crescer? Pra ter mais emprego e renda? Pra que ter mais emprego e renda? Pra ter mais bem-estar? Mais bem-estar...tá, pra quem? Pra todo mundo? O ideal é que seja, supondo que seja, pra que mais bem-estar? Pra satisfazer os anseios e desejos dos indivíduos... é inevitável que o fim esteja no próprio homem. Enquanto isso a "Ciência" Econômica só discute os "determinantes do crescimento". O fim da atividade econômica e da própria ciência é o crescimento.

E não quero cair no debate famigerado entre a diferença entre crescimento e desenvolvimento porque mesmo quem advoga pelo desenvolvimento acaba caindo na mesma falácia da desvirtuação de meios e fins. Dizer que o mero crescimento sem "mudança da estrutura produtiva" ou "efeitos de encadeamento" ou que seja "desenvolvimento de tecnologia internamente" não é desenvolvimento implica propriamente dizer que o fim do desenvolvimento acaba sendo também uma questão meramente "macroeconômica". E mesmo quem fala de educação (vulgo capital humano) ou de políticas sociais, etc tenta mostrar como isso tem um impacto positivo pro desempenho dessa coisa chamada "Economia".

"ah, é importante pensar em educação, em democracia, liberdade, sustentabilidade ambiental. Tudo isso é muito bonito e ninguém discorda disso, mas nada disso acontece sem garantir uma base material, sem ter indústria, sem ter desenvolvimento das forças produtivas"...

[É muito bonito, mas não é tarefa de economista. Porque o objeto de estudo do economista é a Economia e não o homem. Mas peraí, tem alguma coisa bem errada aí, tô quase entrando em parafuso com isso. Porque existe uma área chamada "Desenvolvimento Humano"? o desenvolvimento não deveria ser, per se, humano? Se existe uma área especifica que estuda isso, as outras não estudam algo "humano". Parece estúpido, mas é isso mesmo, o que as outras áreas da Economia (a grande maioria dos economistas) estudam não é o homem, é uma coisa que parece externa e superior a ele.]

... É exatamente pela negligência desses assuntos, por serem "bonitos" e "unânimes", que essas questões continuam sem ser resolvidas. São exatamente as questões "que não são tarefa de economista" que continuam patinando. São exatamente os fins que estão parados enquanto muito se fala dos meios.

Economistas não param pra pensar nos verdadeiros fins da atividade econômica. Pensar educação, saúde, meio ambiente, política social, nesta Ciência, sempre implica em pensá-los na forma de meios. A importância intrínseca dessas coisas é deixada para outros que falam de coisas "bonitas". Pelo visto os economistas preferem falar de coisas "feias" (o contrário de "bonitas"), sem substância moral mas que carregam toda a importância do debate.

Tudo que é unanimemente aceito acaba por se tornar vago e não sai do lugar. Sou um militante das causas unânimes, ("bonitas", para os economistas), porque são elas que abarcam os fins. Mas pra sair do lugar tem que mostrar que se é importante no discurso também tem que ser importante na prática, o que implica em sair da vaguidão das discussões e construir avanços palpáveis, capazes de (com ou sem crescimento) fomentar os fins da existência humana, revelando o que é possível fazer paralelamente aos "determinantes do crescimento".

Não sou o único deste lado. vide "Prosperity without Growth, Tim Jackson", entre outras obras.
e Vide o círculo da matemática no Brasil.

(reler o primeiro parágrafo).