quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A grandeza metafísica da música brasileira contemporânea



Alguns vão ver o título dessa postagem e vão lembrar de uma conversa "viajadona" que aconteceu nessa última quarta-feira. Outros vão se perguntar que diabos vão ler logo abaixo. Outros talvez vão simplesmente fechar a janela e ir embora!

A música brasileira, inegavelmente, apresenta uma riqueza sem precedentes. O surgimento de estilos híbridos, únicos e sonoramente agradáveis aos ouvidos de pessoas ao redor do mundo tem suas raízes na música africana, em elementos da música indígena, do jazz, etc. Nesse meio tempo vários grandes gênios apareceram, guiando movimentos musicais especialmente interessantes e criando letras marcantes, ora símbolo de algum protesto, ora simplesmente pra cantar a boemia.

Falo de grandes gênios como Adoniran Barbosa, Chico Buarque e Michel Teló.

Afinal, o que é a "música popular brasileira"? É um estilo musical? é um movimento? é uma categoria historicamente determinada? é um tipo ideal? é uma coisa limpa, uma coisa pura?

Não sei exatamente o que é, mas eu tenho uma certa facilidade em colocar nesse grupo pessoas como Elis Regina e Gilberto Gil, mas já acho mais difícil quando falamos de Gusttavo Lima, João Lucas e Marcelo, entre outros. Isso porque acho que vivemos atualmente um novo momento da música brasileira, um momento de efervescência cultural particular, talvez um ponto fora da reta, como teria sido o momento do festival de 1967 e a emergência da Tropicália. Talvez isso exija uma nova categoria. A história musical está sendo feita agora e nós somos privilegiados de poder assistir e tentar teorizar sobre o que estamos vendo. Afinal, o que é isso?

É impressionante como a criatividade do ser humano pode ser aflorada quando você não estabelece categorias a priori no estudo de alguma coisa. Por exemplo, na música, vários auto didatas criaram composições que se tornaram clássicos, sem saber de antemão muito sobre teoria musical, mas usando isso como uma vantagem criativa. O Eddie Van Halen é um exemplo disso. Outro exemplo é o Bola de Fogo quando compôs o funk da atoladinha. Nosso querido Tom Zé já nos chamou a atenção para a revolução musical que aquela composição representa, ao retornar mais de um milênio atrás, antes do canto gregoriano surgir e dominar a música, aos micro-tons! Veja o que ele diz:


Vejam a riqueza de revolução musical que vivemos!

Ontem refletindo sobre as músicas que estão fazendo sucesso no momento percebemos como os novos gênios da música brasileira possuem faculdades filosóficas extremamente aguçadas! A quantidade de categorias metafísicas que eles criaram é uma coisa de outro mundo. Infelizmente, nós brasileiros ainda não desenvolvemos o suficiente para entender o quão profundo é o que eles estão dizendo, acabamos na maioria das vezes atribuindo a isso apelos sexuais (não que isso não seja profundo). Na verdade é porque ainda não percebemos a multiplicidade de sentidos que isso pode gerar.

Para que as coisas se tornem mais visíveis, vamos por exemplos.


Quando a dupla João Lucas e Marcelo dizem: "Eu quero tchu, eu quero tcha, Eu quero tchu tcha tcha tchu tchu tcha..." Vejam a quantidade de elementos que podemos extrair disso: primeiro, trata-se da expressão direta na música do telos de uma sociedade, a expressão de uma utopia guiada por um líder que faz as massas repetirem o refrão, todos em busca um ideal! Mas veja que esse ideal é colocado numa categoria essencialmente metafísica! Afinal, o que é tchu, o que é tcha? Tudo isso está no plano das ideias, talvez ainda não desenvolvemos suficiente o nosso raciocínio filosófico para entender de fato o que é essa entidade metafísica! Mas com certeza isso tem relação com o "fim último", algo como aquilo que Aristóteles e depois Hegel tiveram claro em suas análises. Verdade seja dita, essa categoria se expressa em contradições: tchu tcha tcha tchu... que profundidade!

Já foi a época em que as coisas deveriam ser deixadas de forma clara. Voltamos a época das expressões artísticas "proibidas", que ganham um ar de "oculto" muito interessante: nem todo mundo precisar saber o que está sendo dito...é igual o "cálice" do Chico Buarque!

Vejam também quão fabuloso é o refrão de Gusttavo Lima: "e hoje vai rolar o Tchê tcherere tchê tchê, Tcherere tchê tchê, Tcherere tchê tchê, Tchereretchê Tchê, tchê, tchê, Gusttavo Lima e você". Esse refrão está carregado de meta-arte, de altíssimo conteúdo parnasiano! É a arte pela arte, pela simples satisfação de ver como as coisas se combinam: o tchê, o Gusttavo Lima e você! Afinal, como os parnasianos mostravam, a arte pode ter sentido em si mesma, ela se basta! E de novo uma categoria metafísica...não sei o que é, mas vai rolar um tchêrere, etc, que também não se sabe o que é. Altíssimo conteúdo evolutivo nessa letra. Sem contar com as novas categorias literárias, vejam como o Eu lírico aparece de forma incisiva nessa letra, é algo realmente sem precedentes.

Enfim, exemplos não faltam, falta você perceber que estamos vivendo um momento único da música brasileira, uma nova revolução de grandes proporções. Mas ela aparece nas entrelinhas de composições de alto conteúdo filosófico, sobre o qual nada mais fiz do que elocubrações. Acho que o entendimento de fato de tudo isso está além da capacidade de qualquer um de nós, por isso precisamos celebrar os gênios que o Brasil deu lugar!