A leitura de um artigo do Elmar Altvater de ontem pra hoje já foi suficiente para querer postar. Na verdade trata-se de escrever sobre uma pergunta que sempre passou pela minha cabeça, em parte tentei falar sobre isso na monografia, mas vejo que ela continua pairando. Na dissertação eu devo tangenciar isso, mas acho que uma busca mais extensiva dentro da Filosofia e da Ciência Econômica sobre o tema ainda se faz necessária....quem sabe na tese?
Bom, por enquanto dá pra pinçar alguns elementos de análise!
Em primeiro lugar, segue o artigo:
Elmar Altvater - "Crecimiento económico y acumulación de capital después de Fukushima"
No artigo, o talvez "nunca antes na história deste país" tão radical Altvater bota neoclássicos e keynesianos no mesmo saco ao dizer que ambos não consideram as leis da termodinâmica em suas análises. Nesse artigo fica patente sua base da teoria de Marx, com referências explícitas e tudo mais, coisa que antes não era tão evidente assim. O autor busca construir um argumento de que o capitalismo assumiu um imperativo de crescimento que desconsidera completamente as "fronteiras planetárias", tanto no lado do input quanto do output ambiental (recursos e degradação). Os economistas esqueceram em suas análises que é impossível crescer indefinidamente (não existe regra de ouro pro crescimento, nos termos de Herman Daly).
Mas na verdade nesse artigo o autor chama a atenção pro fato de que não é necessariamente um problema dos economistas ter esquecido esse tipo de análise, porque na verdade é do próprio sistema capitalista o imperativo do crescimento. A teoria é apenas um reflexo disso. O próprio Marx já nos chamava a atenção pro fato de que o capitalismo só pode existir na medida em que possa se reproduzir. O que o Altvater (e outros autores, como o Georgescu-Roegen por exemplo) dizem é que as condições de reprodução dependem de uma base energética e material que não se reproduz (e isso é uma lei inexorável da Física).
Tentando me arriscar nos termos de Marx, é como se o crescimento passasse também por um fetichismo. Crescer se torna o objetivo do capitalismo, assim como o lucro se torna o objetivo da produção de mercadorias. Mas...e a satisfação das necessidades humanas? Bom, esse parece não ser um objetivo da produção tipicamente capitalista.
Esse raciocínio coloca em xeque um monte de coisas: afinal como é possível pensar em Desenvolvimento das pessoas, satisfação das necessidades (principalmente dos mais pobres), "Prosperidade sem crescimento" nos termos de Tim Jackson, ou mesmo "Felicidade" num sistema cujo objetivo passa a ser o crescimento? Muitos teóricos vão dizer que tudo isso que eu disse é consequência do crescimento. Bom, aí temos um problema: então quais são os fins e quais são os meios? Se utilizarmos um raciocínio à la Amartya Sen, veremos que há uma distorção entre ambos no sistema capitalista, dentro do qual o crescimento passa a ser o fim e não o meio.
Discutir os fins da nossa sociedade passa exatamente pela questão de manter as condições do planeta para o futuro. Falar em tempo na formulação do nosso objetivo social passa também por falar sobre qual o destino do sistema que escolhemos.
Altvater sempre advogou a necessidade de uma revolução energética, na qual os fósseis fossem substituídos pelo pleno uso direto da energia solar. O autor mostra que pensar numa sociedade de crescimento zero (como alguns autores advogam) capaz de propiciar o florescimento das pessoas (algo como geração de bem-estar sem crescimento) implica pensar numa sociedade "pós-capitalista".
Sendo pós-capitalista ou não, pensar essas coisas torna-se cada vez mais necessário, na medida em que os problemas se tornam mais patentes. Além disso a questão ambiental envolve uma incerteza muito grande, afinal não sabemos exatamente o que a natureza nos reserva na medida em que ultrapassamos um certo "limiar" biofísico. Diante disso, usando a sabedoria convencional, espera-se uma postura precaucionária por parte dos indivíduos e das instituições. É isso que tem sido feito? Talvez em alguns lugares, mas não de forma generalizada e com certeza não no nosso país. Isso vai acontecer em escala global quando desgraças (sérias) acontecerem. Mas será que isso é um dado da psicologia humana?
Abrir essa caixa preta será um desafio que pretendo levar adiante este ano. Muitas perguntas que exigem resposta não serão necessariamente respondidas, mas precisam ser pensadas. Aguardo as contribuições de vocês!