terça-feira, 2 de abril de 2013

Prepare-se para um Brainstorm


Lá na descrição do blog é possível ler: "Um lugar pra jogar as coisas quando a cabeça se torna um reservatório muito pequeno". É dessa função do blog que pretendo fazer uso neste momento.

Não necessariamente o que se lerá logo abaixo será um Brainstorm. O título da postagem se refere à minha atual conjuntura: estou diante de um grande Brainstorm chamado Dissertação. E a parte mais difícil talvez seja exatamente essa: ter a ideia e concretizar a ideia. Estou a alguns dias matutando pra tentar chegar na melhor maneira de operacionalizar isso, mas tem sido difícil. Por isso, meu velho amigo blog está aqui para me ajudar nessas horas! E claro, uma boa oportunidade de tornar meus pensamentos públicos, de modo que mais pessoas podem ver e quem sabe fazer suas considerações.

E que fique bem claro, o que vou escrever aqui não é o tema da Dissertação, é apenas um monte de insights malucos, dos quais, quem sabe, será possível tirar o tema.


A primeira grande pergunta que eu me fiz várias vezes é a seguinte: o que é necessário para que o ser humano utilize da sua capacidade de se prevenir? Ou, o que pode fazer com que os seres humanos atuem de forma precaucionária, ou seja, se antecipando de um futuro possivelmente catastrófico? Trazendo pro debate ambiental, que é o que estudei na monografia e, posso dizer sem medo, é o assunto que me mais me chama atenção, nós já temos evidências bastante fiéis de que o ser humano está provocando na Terra um impacto além do suportável, prejudicando as condições objetivas do futuro. E porque mesmo diante dessa constatação as pessoas parecem ainda não se preocuparem de fato com isso? Acho que posso ir mais longe e dizer que não é que as pessoas não se preocupam: as instituições não se preocupam: as empresas, os governos, etc. Claro que estou generalizando, é evidente que existe um movimento ainda pequeno de busca por uma orientação mais precaucionária, mas acho que a regra geral ainda não é essa.

Me parece que é muito mais factível falar do aquecimento global quando está quente. Claro, isso é uma frase estúpida, mas o que quero dizer é que quando a gente sente na pele a gente pode se sentir compelido à ação. Em outras palavras, talvez a ação preventiva necessite de uma desgraça anterior. Bom, dá pra pensar alguns casos: o liberalismo econômico só foi deixado de lado para uma intervenção maciça do Estado na Economia quando aconteceu a maior crise econômica dos tempos capitalistas. O protocolo de Kyoto só foi assinado e as medidas anti-CFC só foram adotadas quando se viu que o buraco da camada de Ozônio era realmente um problema grave no presente, enquanto que o aquecimento global, como é um "problema do futuro", continua sendo postergado. Aí vem a crise financeira e todos os esforços são focados para salvar o capitalismo de suas forças latentes que geram crises, deixando o tema da crise ecológica de lado "ah, esse pode esperar, não é uma prioridade no momento".

Daí poderíamos ir para casos numa esfera mais microanalítica também. Por exemplo, já repararam que muitos líderes de associações de caridade ou algum tipo de organização solidária passaram eles mesmos por experiências ruins? Tipo o cara que tem uma associação contra o crack pq o filho usou crack, ou sei lá, tem vários casos assim. A minha pergunta é: será que o comportamento solidário surgiu como um resultado da situação difícil que se encarou anteriormente? Será que a prevenção necessita que uma desgraça aconteça para ser um traço do comportamento humano?

Por outro lado, também percebo que na história da humanidade me parece que nós seres humanos passamos a valorizar cada vez mais o futuro. Na época do homem das cavernas, para usar o raciocínio do Eduardo Giannetti, o homem nem sabia o que era futuro: a vida era o aqui e o agora e o ambiente hostil o condicionava dessa forma. Em algumas tribos indígenas de caçadores-coletores não existe uma palavra para "amanhã"! No entanto, vejamos o outro lado da moeda. As religiões por exemplo tendem a concentrar todos os esforços no futuro, como no caso do Cristianismo, em que a salvação estará no após-a-morte SE você tiver tido uma vida descente: pagar agora para viver depois. Orientação para o futuro.

Ou seja, o ser humano tem uma faculdade potencial de agir de forma preventiva ou fazer uma escolha intertemporal: preservar recursos para o futuro. O ser humano é capaz de pensar de forma intergeracional. Mas será que a nossa sociedade nos impele a nos preocupar com o futuro? Possivelmente numa medida muito maior do que na época das cavernas, porque o ambiente não é mais tão hostil. A expectativa de vida é maior. Além disso, existe espaço para a iniciativa individual, não está tudo dado pelos Deuses.

É, mas nem tudo são flores.

Vejamos o caso das pessoas extremamente pobres. O caso delas é muito próximo ao do homem das cavernas: a expectativa de vida é muito baixa, o ambiente é hostil: viver um dia a mais é uma dádiva e tudo pode acabar a qualquer momento. São pessoas extremamente vulneráveis. E vulnerabilidade implica em orientação para o presente: viver o aqui e agora "como se não houvesse amanhã", porque não há mesmo, não há perspectiva. Para essas pessoas é difícil pensar de forma precaucionária.

Ou seja, esse raciocínio mostra que nossa percepção temporal e nossa forma de tomar decisões de alocação intertemporal depende sobremaneira da forma como o ambiente nos condiciona. Esse raciocínio também é do Giannetti, mas eu adicionaria o fato de que se trata de uma ideia essencialmente institucionalista, lembrando sempre a influência de teoria da Evolução de Darwin: o ambiente nos condiciona a criar certos valores, certos padrões de comportamento. Nós temos nossos instintos, é verdade, mas temos a prerrogativa de criar instituições para agir sobre o modo como executamos nossa sociabilidade e portanto, sobre o próprio ambiente. Isso parte de algum tipo de sentimento primitivo que temos de reconhecimento do outro.

Esses valores ficam de tal forma arraigados na sociedade que se tornam o padrão de conduta das micro e macro instituições. Poderíamos pensar por exemplo como é a psicologia temporal do brasileiro, tentando inferir sobre a ontologia desse ser, assim como fizeram os intérpretes do Brasil. Com certeza o modo como o brasileiro "médio" pensa se reflete em suas instituições, por exemplo, o Estado. Se o brasileiro não valoriza muito o futuro, assim provavelmente serão também as políticas executadas pelo Estado. Bom, isso é um exercício complicado de se fazer, necessita mais estudo, com certeza.

Tudo isso serve para mostrar que a noção que nós seres humanos temos do Tempo é algo de uma importância muito significativa, e é um tema muito filosófico. Talvez caiba a ideia de buscar na Psicologia os fundamentos científicos para a estrutura de pensamento que nos faz agir de forma impulsiva ou preventiva, para a partir daí tentar tirar uma ideia de como isso se generaliza nas instituições.

A questão é: se temos a faculdade de pensar de forma preventiva, esta deve ser incentivada. As políticas públicas podem se orientar nesse sentido, por exemplo, ao analisar questões de sustentabilidade. Meu objetivo é olhar para o modo como o Estado brasileiro, esta instituição tão idiossincrática, tem conduzido as políticas de combate à pobreza e também verificar o que tem sido feito quanto à manutenção das condições de vida para as gerações futuras (sustentabilidade), sendo que minha hipótese é de que nada tem sido feito. Bom, a partir daí pretendo mostrar como essas considerações acerca da percepção temporal devem estar incluídas no modo como se pensa essas políticas. A partir daí talvez se consiga pensar novos moldes, novas políticas, que realmente sejam eficazes ao tratar esses problemas. E isso é possível, existem estudos que fizeram coisas parecidas em outros países, mas talvez sem uma reflexão filosófica necessária para compreender como se dão essas escolhas no tempo. E dentro desses meandros que pretendo adentrar a partir de agora.

Uma coisa é certa: não existe algo como uma "natureza humana". O que existe são faculdades potenciais emocionais e racionais. O resto fica por conta do ambiente, que nos condiciona a usar mais ou menos essas faculdades. A sociedade capitalista por exemplo é um ambiente que condiciona a faculdade de ser individualista. E aí vem um monte de teorias dizendo que a natureza humana é egoísta. Pois não serei eu que vou afirmar que a natureza humana é altruísta. O ser humano pode ser altruísta se o ambiente o compele para tal.

E quando é que nós formamos nossas capacidades de pensar essas coisas, de ter valores assim ou assado? Quando somos ainda bem pequenos. Por isso a educação em sentido amplo tem uma importância muito grande: Certas instituições nos moldam desde pequenos: a família, a escola, a igreja, etc. É aí então se que pode agir se buscamos uma mudança: estimular determinadas faculdades potenciais desde pequenos. Estimular, por exemplo, o comportamento precaucionário desde pequeno. E mais: fazer com que as pessoas pobres tenham também capacidade de ter essas faculdades potenciais estimuladas. E isso não é pq ninguém é bonzinho. É uma questão moral, que por sinal também é um valor social. A moralidade também é uma instituição, criada pelos indivíduos para atuar sobre suas ações.

Enfim, muitas coisas rondando minha cabeça no momento e poucas conclusões, apenas ideias vagando por aí em busca de criar uma coisa concisa e concreta, realizável.

Mas me parece que a Economia é um pouco restrita para essa tarefa. Eis o imperativo da transdisciplinariedade.