sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

E o que vem a tona com a tragédia de Santa Maria?

Desde o último domingo, quando presenciamos uma das piores tragédias que o Brasil (e o Mundo) já presenciaram, tenho pensado sobre questões relacionadas à este fato. Acredito que isso tenha feito muitas pessoas refletirem, de uma maneira ou de outra. E acredito mais que as pessoas com maior senso crítico tenham feito reflexões mais sensatas sobre a questão. E acredito mais ainda que a maior parte das pessoas tenha reproduzido algum discurso que ficou pululando por aí na mídia. E como a mídia se apropriou deste tema?

A postagem não é sobre a tragédia de Santa Maria. É sobre o modo como a mídia se apropriou da questão e da sua importância na hora de "formar opiniões".

No domingo mesmo a Band convocou o ilustríssimo (sic) José Luiz Datena para fazer a cobertura da notícia. Se alguém tiver sintonizado por mais de 10 minutos neste canal, possivelmente ouviu as expressões "isso é um absurdo", "isso só acontece nesse país", e "eu quero ibagens" umas 37 vezes cada uma. Eu mesmo fiquei um tempo assistindo pra perceber algumas coisas: a cobertura completamente sensacionalista da notícia, enfatizando os erros de condução da boate, associada à imagens fortes e perturbadoras. Em primeiro lugar, um total desrespeito com as pessoas que estavam, de fato, sofrendo diretamente com a tragédia. Mas também, uma forma massiva e repetitiva de criar uma determinada percepção do fato para as pessoas. Esse artigo conseguiu traduzir muito do que eu penso sobre este "cinismo da mídia" deflagrado diante da tragédia recente:

http://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-cinismo-da-midia/

É bom lembrar que esse é o mesmo cara que associou o crime de fuzilamento de um garoto ao fato do assassino ser ateu. É evidente que nada pode tirar a culpa do indivíduo, mas também é evidente que não existe correlação nenhuma entre os dois fatos, e associá-los é também um crime, no caso, contra a liberdade religiosa.

E antes fosse só uma pessoa ou só um programa. Essa tem sido praticamente a regra na veiculação de notícias trágicas. A transformação da tragédia num espetáculo pra milhões de pessoas assistirem e gerarem audiência.

O maior problema da história é que a forma de veiculação de tragédias e crimes na televisão tem assumido, ela mesma, a forma de uma tragédia, de um crime contra a sociedade. Um crime que passa impune. A impunidade que tanto se clama nessas exibições é, na verdade, conveniente para eles próprios.