sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Postagem Sentimental ou "do bolor"




Este blog sempre é recheado de devaneios (pseudo) filosóficos e discussões meio acadêmicas meio de amenidades, tudo sempre numa esfera meio...racional. Inclusive quando escrevi sobre a Cultura Racional!

Hoje o teor é bem diferente.


Depois de ter acordado com alguns azares cotidianos e ter achado que hoje era aquele dia pra ficar em casa sem fazer nada porque a vida tava conspirando contra, acabei tendo um dia de trabalho interessante e um pouco cansativo, nada que destoasse muito da normalidade (à exceção do pneu furado da bicicleta). Depois disso, treino, cansaço físico, até meio além da conta... resolvi passar no supermercado e comprar uma...água sanitária! Acabei comprando água sanitária, suco de laranja, uma caixa de cerveja (receberei visitas no fim de semana...) e 2 pães de queijo. Comi um ali mesmo, tamanha a fome pós treino. O outro dei para um mendigo na rua, que havia inclusive perguntado antes se eu não poderia comprar algo pra ele comer.

Agora porque a água sanitária?


Estava decidido, mesmo apesar daquele dia todo, que ia chegar em casa e tirar todo o mofo impregnado no teto do quarto, depois de vários e vários dias úmidos nessa capital gaúcha que, por sinal, tem o tempo mais volátil do que os derivativos financeiros. Aquelas coisas que você nunca faz, mas um dia tem que fazer. Tirei todo o mofo com certa violência até. O resultado foi bem legal.

Mas talvez o maior bolor estivesse ali, nas lembranças.

A maior preocupação do Arnaldo Baptista em 1974 era se ele seria "esquecido" (pela Rita ou pelo mundo da música, ou pelos dois). "Será que eu vou virar bolor?" ele se perguntava. Realmente, o que a gente esquece, vira bolor. Foi o que aconteceu com uma pequena pastinha no canto da prateleira. Mofou toda. Tive uma crise de espirro quando fui pegá-la.

Limpei, tirei todo o mofo e abri. Deve ter sido a segunda ou terceira vez que abri essa pastinha (na minha vida). Ela continha lembranças, nada mais do que isso. Direto eu me pergunto porque eu guardo algumas coisas, mas quando me vejo nesses momentos eu entendo porquê. Parece um amontoado de tralha, lixo, coisa inútil mesmo, mas não é. Todos aqueles "souvernirs" ali me trouxeram imediatamente lembranças de um passado já meio distante, me fizeram rir. Me tiraram sorrisos verdadeiros da cara. Muitas diziam coisas como "você vai mostrar isso para os seus netos" ou "um dia você vai abrir essa carta de novo e lembrar desse tempo" entre outras coisas. Pois é.

Era uma pastinha com muito amor dentro, sem dúvida.

Lembranças são coisas meio cruéis. Ao mesmo tempo que elas são mágicas e nos fazem lembrar de tantas pessoas que marcaram nossas vidas (e que tiveram suas vidas marcadas por nós também, o que traz outra sensação muito boa), elas nos fazem questionar sobre o modo como levamos a vida, e se não deveríamos estar dando mais importância para as pessoas... a vida vai girando, levando a gente de um lugar para outro e as pessoas vão ficando, como um trem passando pelas estações. E às vezes dá um certo medo de estar, de certa forma, virando bolor também.

Mas acho que o saldo é positivo. Fiquei ali talvez uma hora vendo cada carta, cada bilhete, cada presente, cartão postal, foto... tirando todo o bolor das lembranças esquecidas e que voltaram todas à mente num piscar de olhos. Entendi mais uma vez perfeitamente para que servem as lembranças: essas coisas simples da vida que nos fazem muito bem. Me sinto estimulado e com um certo senso de "dever" de querer cultivar mais isso, instantaneamente. Mas contraditoriamente, sinto um pequeno receio disso virar bolor de novo.

Era Digital: faça o que você quiser, acho que um pedaço de papel com umas coisas escritas nunca vai ter seu valor substituído por nada.

3 comentários:

Modes disse...

caralho, que da hora!
diretamente das profundezas de Wagnight, numa narrativa gostosa.
me identifico

Unknown disse...

haha, descreveu bem! mas é isso aí, as vezes uso esse blog só pra depositar pensamentos aleatórios mesmo!

Jonattan Castelli disse...

Hoje percebi que venho me apegando às coisas, materiais, que me dão prazer. O que é isso, meu amor, será que vou morrer de dor? O que é isso, meu amor, será que vou virar bolor?! Uh ieee!
Eu digo, Wagnight, essa música não sai da minha cabeça. Fica tocando em um looping infinito!
Por sinal, excelente postagem.