segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A tênue linha entre Pirataria e Cultura Livre

Queria antes de mais nada deixar claro que eu não estou pirateando nenhuma postagem. Me certifiquei de que ninguém da Warner, da Fox ou da Som Livre (quanta ironia nesse nome) havia feito essa postagem anteriormente. Portanto, eu tento garantir a originalidade do que escrevo aqui.

Mas apesar disso posto downloads de música aqui. E não vou deixar de fazer isso tão cedo. Nem muito menos vou parar de fazer downloads, pois como me disse certa vez um professor: download é uma criação divina.

Pirataria é um tema polêmico. Eu tenho a impressão que as pessoas adoram ver notícias no jornal dizendo que não sei quantas cópias de não sei o que foram apreendidas, queimadas, destruídas, etc. Eu quando vejo esse tipo de coisa tento pensar no que está por trás. Convido a todos realizarem o mesmo exercício.

Porque existe Pirataria? Ao meu modo de ver, ela só existe porque antes dela existe outra coisa chamada Indústria Cultural. Adorno e Horkheimer, dois sociólogos muito importantes descreveram bem o processo pelo qual esse conceito substituiu a idéia de cultura popular e cultura erudita. Hoje é tudo comércio. E ponto.

Como tudo no nosso lindo e harmonioso sistema capitalista, a cultura passou a ser regulada pela lógica individualista do dinheiro e do lucro a qualquer custo. Portanto, custa (e em alguns casos, muito) ter acesso a cultura, aos discos da banda que você gosta, aos filmes que você vê no cinema, entre outros. A cultura de massa então fabricada fica restrita aos que podem pagar. E essa é a tendência que veio acompanhando o mundo até... até hoje na verdade, mas uma determinada inovação tecnológica pareceu abalar essa estrutura.

Sim, essa que eu estou utilizando agora: a Internet. Coisa linda de Deus.

Dela veio o download. E então a mídia começou a se espalhar pela rede de uma forma absurda. Todos devem saber que você acha praticamente O QUE VOCÊ QUISER nessa geringonça. Desde discos do Captain Beyond até receitas de torta de morango, passando por informativos sobre o cruzamento entre ornitorrincos e peixes-boi no norte da Papua Nova Guiné.

E sim, agora ao invés de pagar pra ir no cinema ou pra ter um disco original, muitas pessoas simplesmente baixam da Internet. E o que há de mais nisso? Cultura Livre, pessoas trocando figurinhas virtualmente!! Uma socialização internacional inimaginável anteriormente. Inclusive eu tenho minhas viagens mentais que chegam a indagar se seria possível a revolução comunista por meio da Internet, mas isso é outra discussão.

Como era de se esperar, e como tudo no mundo são interesses, os caras que ganhavam (e continuam ganhando) dinheiro com suas mega empresas dentre gravadoras e estúdios, tinham que defender seus lucros, tachando o download como uma forma de pirataria, além das outras existentes, no âmbito da cópia propriamente dita sem pagamento de direitos autorais. Tá, e nós somos bombardeados com a visão de que pirataria é desordem, é contra o sistema, é ilegal, bla bla bla. Nessa lógica em que vivemos é mesmo, e o download não foge à regra. E aí...tadinho do cara que produz a música e esse é o seu ganha-pão e tudo mais.

Mas aí está o cerne da questão. Pessoas produzem cultura com o FIM de ganhar dinheiro. Ele não é apenas uma consequência, ele é o incentivo que mexe com a cabeça de nós reles seres humanos para produzir produzir produzir. E produzir cultura como não poderia ser diferente. A lógica do lucro corrompe a cultura e agora tacha os que fogem dessa lógica de CRIMINOSOS. Pra mim CRIME é restringir a cultura por meio do dinheiro. E sou partidário de todo tipo de divulgação de cultura livre, sem interesses marqueteiros, além de todas as manifestações culturais não vinculadas a esse tipo de lógica. Infelizmente eu também gosto de muita música e cinema que está totalmente embebido nessa máquina e, portanto, corrompo, cometo crimes quase todos os dias. Faço downloads.

Afunilando a discussão. Tá na hora da seção 'divulgação de mídia' do blog. Para os que não conhecem (e não devem ser muitos), apresento a vocês a comunidade do Orkut - DISCOGRAFIAS.

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=6244330

Lá você acha muito link para download de música. Todos os tipos de música. Fuçem à vontade, tem direito a índice geral por letras e bandas, além de trilhas sonoras. Enfim, muita coisa. E eu admiro e reverencio milhões de vezes o cara que criou essa comunidade e teve todo o trabalho de organizar a coisa.

Pergunta: porque a comunidade chama "Discografias - A Ressureição". Exatamente, ela já morreu uma vez. E agora que entra o tema da fotinha: APCM. A Associação Antipirataria Cinema e Música, órgão nacional responsável pelo combate à Pirataria (e logicamente, responsável institucional pela defesa dos grandes coitadinhos conglomerados industriais da cultura - as gravadoras e afins), várias vezes tentou por um fim na comunidade. Até que conseguiu.

Grande coisa. No outro dia já tinham criado a discografias - o retorno e todo mundo começou a recolocar os links. Foi uma manifestação generalizada no Orkut, me lembro muito bem do dia. No fórum era uma postagem por segundo praticamente. As pessoas se juntaram para revitalizar essa coisa linda de Deus. E conseguiram. E tão ai moendo. E eu continuo baixando horrores e também contribuindo com alguns Uploads. Não adianta, a Internet tem algumas especificidades enquanto meio de comunicação que a diferenciam dos demais. Infelizmente, ainda não é generalizado para todas as classes sociais, pois afinal está vinculado também à lógica do dinheiro, uma vez que você precisa pagar para ter acesso, pagar para ter um computador, pagar para ir a lan house, etc. Digo isso por que os meios de comunicação de massa a que a maioria das pessoas confia e pode ter acesso estão já corrompidos: rádio, TV, mídia impressa.

Sugiro que procurem na comunidade pelos tópicos de discussão sobre a APCM. De vez em quando aparecem coisas muito interessantes, e esse tema exige de fato muito conhecimento e interesse, pois, como digo várias vezes, precisamos juntar forças para manter a Internet como o meio de comunicação ainda LIVRE. O que não significa que muitas pessoas a utilizam como meio de exercer poder e ganhar dinheiro, como tudo no capitalismo. Mas continua livre. No entanto, se não mantivermos organização exemplar e força pra discutir e brigar, vai se tornar restritivo e vinculado aos interesses do capital.

Pra terminar essa postagem queria lembrar todos vocês de uma persona: o ex governador do nosso estado de Minas Gerais: Eduardo Azeredo. Ele próprio já lançou n projetos de lei e afins para tentar criar restrições sobre a Internet (e engraçado, também tem liderado algumas iniciativas perniciosas sobre a reforma eleitoral, cujo relator é o próprio).

Deixo duas notícias para vocês:

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/9/13/internet-e-televisao/?searchterm=azeredo

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2009/9/4/a-internet-sob-censura/?searchterm=azeredo

Claro que é sempre bom lembrar que muita gente usa mal a Internet, como postei anteriormente sobre a Vanusa, além dos casos de pedofilia, prostituição de menores, etc. Mas aí vejo a criminalidade virtual como um desdobramento da criminalidade em si e, portanto, não é motivo que justifica restringir o meio de comunicação, mas apenas reforça a idéia de que precisamos de soluções estruturais para problemas que são estruturais.

Não adianta soprar nem mesmo jogar água. Tem que dar um jeito no material inflamável.

2 comentários:

Tainá Simples disse...

A internet confere as pessoas "normais", de baixo escalão, sejam escolarizadas, pertencentes a academia ou anal-fabetas, fora de qqr vínculo ideológico manipulador(mesmo que isso seja difícil as vezes) uma ferramenta de comunicação de longo alcance, alta efetividade de influência, "baixo custo" (vamos lembrar que a porcentagem das pessoas que tem acesso a essa ferramenta ainda é baixa) e democrática (diferenciando muito bem democracia de democratismo)!

Mas muitos artistas já perceberam que a internet vêm como uma boa propaganda para o trabalho deles, como o cado da banda Semi-Novos, do Maurício Ricardo, que possui todas as suas músicas disponibilizadas na web, ou o Móveis Coloniais de Acaju, que mesmo tendo discos lançados por gravadoras (de baixo custo, vale lembrar) lançaram um disco exclusivamente virtual, junto ao site TRAMA VIRTUAL, para todos baixarem a vontade, pois isso fornece um público fantástico no momento dos show, que dai sim, dão uma remuneração boa para os artistas, além da gratidão do público.

Não sei se conheces, mas procure pelo F.A.R.R.A., é um fórum que é cheio de coisas bem interessantes, e MUITOS filmes, inclusive raros!

Grande abraço!
Parabêns pelo blog!
Creio que minha casa não seja tão convidativa como a sua, pois minhas postagens são BEM esparças, mas fique a vontade! A casa é sua!
Até!

Unknown disse...

Para começar se a revolução comunista fosse feita pela internet eu seria o cavalo de tróia.
O capitalismo passa por transformaçoes todos os dias, essa é só mais uma, cabe as gravadoras buscarem uma reestruturaçao dadas as condições atuais. Se nao me engano (e a probabilidade de estar enganado é grande), os ''artistas'' nao se preocupam tanto com a pirataria pois recebem (o dinheiro adentrando o raciocínio) mais pelos shows realizados do que pela venda de cds, a mim parece que as gravadoras que estao perdendo dinheiro e mobilizando os ''criadores de arte'' em seu favor.
De qualquer forma alguns ganharao dinheiro, talvez os inovadores, a ver pela http://www.livrariasaraiva.com.br/download-filme-digital/?ID=BD0F97E57D909161435080332
que viu uma oportunidade. (ir a locadora ou optar pelo download ainda é mais barato).