domingo, 15 de novembro de 2009

O problema da educação também é das elites


 Ah como é bom atualizar isso aqui, estava em falta! E agradeço a questão colocada pelo Lucas como uma idéia de postagem, que com certeza constitui um tema bastante amplo e complexo e que gera alguns desdobramentos interessantes.

Quando se fala em educação e no fato de que o Brasil enfrenta graves problemas com isso, a idéia que nos é remetida rapidamente é que o ensino público é a representação desses problemas. O descaso de alguns professores, os sérios problemas sociais que levam muitos a desistirem da escola ainda no seu nível básico, a falta de capacitação, recursos, metodologia avançada, enfim, muitos são os fatores (estruturais) que fazem a educação no Brasil ser um problema, e não uma solução, como foi em muitos países do outro lado do mundo, mas isso não vem ao caso agora.

A idéia é que felizmente esse problema é contornável, mas a longo prazo, evidentemente. Infelizmente, nunca pude perceber iniciativas educacionais de longo prazo nesse país, cujas diretrizes, desde que é país é: controlar os problemas quanto eles aparecem em suas circunstâncias específicas. O âmago da coisa nunca é discutido, trabalhado, nada.


Contudo, na verdade, essa não é a temática central dessa postagem.

"Se a educação pública no Brasil é ruim, eu pago um pouco mais agora para fazer um investimento na educação do meu filho: coloco ele numa escola particular para que depois ele faça universidade pública". Muitos já devem ter ouvido esse discurso, estou certo? No Brasil, a iniciativa privada na educação é tido como "padrão de qualidade", como "investimento de longo prazo" nos filhos. Basta ir às universidades públicas e medir o nível intelectual das pessoas. Certa vez ouvi uma frase que me marcou pra sempre: "não espere demais da universidade, o nível intelectual das pessoas não é maior". Independente da questão ser nível intelectual, amadurecimento, etc, não me parece que esse "investimento de longo prazo" dá resultados evidentes. Provavelmente muitos fazem suas carreiras a partir disso, mas não creio que esse padrão de qualidade seja tão significante assim.

Pois veja, a maioria das escolas privadas, num regime de competição TIPICAMENTE CAPITALISTA, se disputam para ver quem aprova MAIS, quem tem MAIS recursos tecnológicos, que tem MAIS espaço, etc. Ou seja, me parece que o padrão é puramente quantitativo. O aspecto qualitativo fica em segundo plano, o que é um contrasenso enorme, pois o motivo de existir educação é exatamente qualitativo!!! As empresas (sim, são empresas, é claro) deveriam no mínimo ter mérito pela busca de boa qualidade metodológica, bons professores capacitados, um sistema decidido a formar pessoas éticas e tudo, e não criar máquinas de fazer vestibular para enriquecer seus números, criando um círculo virtuoso para elas. E eu digo, somente para elas.

Essa discussão surgiu com a informação que o próprio Lucas me passou e que segue abaixo:

http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=840130&page=116 (a segunda notícia)

Veja o ciclo expansivo de uma escola privada que compartilha de todos esses interesses capitalistas quantitativos e tudo mais aqui mencionados. Coloca-se a aquisição de uma escola com método e que provavelmente estimulam características mais interessantes do que a habilidade de fazer provas como por exemplo a criatividade. Vão "inovar" com um novo sistema de ensino especial, com MAIS recursos tecnológicos, MAIS espaço. E assim vai. Depois entrem no site da escola e vejam o que eles mesmo tem a dizer sobre isso. Me provoca algumas risadas internas de desespero.

Ficaria muito feliz com seu comentário Lucas, e de todos demais que possam comentar nessa postagem depois de um período ocioso!!

Mais postagem sobre esse tema educação ainda estão por vir..........

5 comentários:

Bruno (PET) disse...

Concordo com tudo o que você disse, mas como economista você tem que entender uma coisa elementar: é oferta E demanda, e não oferta OU demanda. Não adianta querer impor o modelo de escola "ideal" para você sendo que esse não é o que desejam.

Por esse motivo, é super natural ter instituiçoes de ensino (superior e médio) focadas nos aspectos quantitativos, afinal a demanda tem sido direcionada pra isso. Além disso, creio que isso não é algo que incomoda determinada quantidade de pessoas, pois se fosse, colégios que possuem um ensino pautado em qualidade tradicional, com valores, teria uma demanda muito maior que a desses colégios e com isso absorveriam um lucro econômico consideral, ocasionando um deslocamento para esse modelo educacional. É tudo uma questão de demanda, e quem tem o poder dessa demanda são os consumidores (população). São eles que escolhem isso, ou você acha que existe alguem forçando eles pagarem mais caro em um colégio-cursinho?

O resultado economico dos agentes (lucro/prejuizo) é o melhor meio para se direcionar a oferta: escola para cursinho ou com qualidade?

Esqueça essa causa política, não pense em colocar o Estado no meio disso como se ele soubesse o que é o melhor para o público. Os agentes já fazem isso por meio de relações mercantis.

O melhor a se fazer é privatizar todo o ensino público no país, com certeza esse é o único caminho possível para o alfabetismo "zero". Um estado com um passado como o nosso, de endividamento extremo, dificilmente consigará cumprir a tal agenda do desenvolvimento enquanto estivermos vivo. A Inglaterra demorou um século para reduzir sua dívida... o que irá restar para nós ?

Em suma, essa questão da educação não é estrutural, mas sim um problema concorrencial.

SpaceWagner disse...

Comentário natural e totalmente direcionado ao seu comentário austríaco, Bruno! rsrs

Adorei o início "concordo com tudo que você disse" ehueauheahuea
Eu devo dizer que concordo com você quando diz que há Também um problema de demanda, mas ao meu ver esse é outro problema de caráter estrutural. Essa demanda só existe porque o bom sistema público de não foi constituído como tal, no caso brasileiro. E veja bem, estrutural é bem diferente de estruturalista, mas com certeza refere-se ao entendimento de questões menos genéricas, mais específicas a uma determinada realidade e que foram constituídas por um complexo processo histórico que não pode ser descartado.

Falar que a educação é um problema concorrencial é primeiro incorrer numa generalização simplista de uma lógica mercantil que refere-se a negócios e não pode ser aplicada a outras relações humanas mais complexas, como a relação do conhecimento. Não que essas relações não estejam relacionadas ao sistema produtivo (e estão), mas conflitos de utilidade, de competição, são característicos de uma lógica hobbesiana do homem sendo o lobo do próprio homem, cada um na busca do seu lucro pessoal e que gera conflitos, prejuízos para uma parte do sistema, e não um grande bem-estar social como se dá na ideologia do Laissez-Faire.

O governo brasileiro tem um problema muito grande no que se refere a educação e eu acho que ele ainda não soube resolvê-lo. Muito menos acho que será capaz de resolver sozinho, afinal existem muitas questões já cristalizadas envolvidas...como inclusive esse problema de demanda que você comentou. E as privatizações, penso eu, completariam a metamorfose completa das instituições de ensino em meras empresas capitalistas regidas pela ordem do lucro. Aí sim os problemas já observados seriam finalmente exacerbados. Acho que o sistema público de ensino afinal sucumbiria e a desigualdade gerada seria infinitesimal, como resultado de todo tipo de relação orientada pela lógica do capital. E a produção de conhecimento de fato existiria...também vinculada aos interesses das empresas, é evidente. Para escrever a lista de problemas das mais variadas esferas (desde a social até a financeira passando pela ambiental) advindos dessa hipótese, vou precisar de mais do que um rolo de papel higiênico, com certeza.

Unknown disse...

Querido,

Acho muito importante refletir sobre EDUCAÇÃO, adorei seus apontamentos... no entanto, o que mais me chamou a atenção foi a discussão que a Universidade Pública ser destinada aos estudantes da iniciativa privada...nesse sentido,
acho louvavel a iniciativa da ufu de dispor uma parcela das vagas do processo seriado ao ensino público...mas em uberlandia existe uma mafia da escolas particulares que combateram na justiça essa decisão...
fica a dica: quando a ufu quer dar direitos...parte da sociedade uberlandense protesta...

SpaceWagner disse...

O PAAES era uma iniciativa de curto prazo, no meu entendimento, e portanto incapaz de gerar mudanças estruturais, o que não significa que ela não tenha sua relevância.

Sou totalmente contra qualquer tipo de cota racial, mas penso que o sistema de cotas para a escola pública é um remédio necessário nesse momento, para pelo menos balancear um pouco a situação. Claro que também não vai adiantar de nada se não houverem políticas de longo prazo para a educação.

Infelizmente as elites educacionais uberlandenses parecem ser bastante poderosas até no âmbito jurídico e político. Conseguiram derrubar até isso. Sei que houveram manifestações, mas ainda não sei dos resultados, que espero, sejam de alguma forma positivos...

Muito obrigado pelo seu comentário, meu bem! =*

Maico Bernardes disse...

Educação tornou-se mais uma área de valorização do capital (PONTO)
Educação a todos, YES PAAES (por enquanto né, como já mencionado por aí...)!